segunda-feira, 11 de outubro de 2010

R-CHOP e seus 10 anos...

Respondo aos visitantes o assunto de maior interesse até o momento, conforme a enquete ao lado sobre taxas de respostas e recidivas sobre o Linfoma Difuso de Grandes Células B

Foi publicado em 23 de setembro de 2010 na revista Blood Journal, uma das revistas de maior impacto na literatura médica, os resultados do seguimento de 10 anos do estudo multicêntrico organizado pelo Professor Bertrand Coiffier, radicado na França.



O estudo LNH-98.5 foi o primeiro estudo que comparou o tratamento CHOP versus o tratamento CHOP com Rituximab (R-CHOP) nos pacientes com idade entre 60 a 80 anos com diagnóstico de Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB) – o subtipo mais freqüente de Linfoma não-Hodgkin.

Os primeiros resultados deste estudo foram publicados em 2002 na revista The New England Journal of Medicine e impactaram a conduta terapêutica em relação à esta doença.

Após 10 anos de seguimento desta pesquisa alguns resultados tornam-se extremamente importantes frente às expectativas dos pacientes, com este tipo de doença e esta faixa etária (60 a 80 anos).

Primeiramente, é fundamental caracterizar o perfil do paciente analisado. De forma simplificada, foram analisadas pessoas com LDGCB que consentiram de forma ética participar desta pesquisa com idade entre 60 a 80 anos, com doença não localizada e com estado clínico entre bom a razoável. Estas pessoas não tinham AIDS, Hepatites, como também não poderiam ter histórico de outros tipos de câncer e infiltração do linfoma no sistema nervoso central.

Estas pessoas foram separadas entre grupos de tratamento que receberiam quimioterapia exclusiva 8 ciclos de CHOP a cada 21 dias, tratamento padrão da época, versus R-CHOP (8 ciclos a cada 21 dias). Foram incluídas 197 pessoas para o protocolo CHOP e 202 para R-CHOP.

Assim, os resultados do R-CHOP demonstraram que 75% atingiram resposta completa ou completa não confirmada, alvo almejado para o tratamento de indução. A mortalidade decorrente do tratamento foi de 13%, de outro câncer 9% e de outras doenças não decorrente do linfoma ou do seu tratamento de 21% em 10 anos de seguimento. A taxa de recaída da doença, ou seja, o percentual de pacientes que atingiram resposta completa e completa não confirmada que apresentaram recidiva foi de 35,7% em 10 anos, ou seja 64,3% mantiveram resposta com os oito ciclos de R-CHOP.

Estes resultados ainda foram melhores nos pacientes que apresentavam bom fatores prognósticos.

Entendo que estes resultados merecem ser interpretados com entusiasmo, pois de fato impactaram no tempo e qualidade de vida dos pacientes, como também devem ser entendidos com certas ressalvas. Primeiramente, os pacientes que foram analisados eram pessoas consideradas idosas e assim 10 anos de vida para um paciente de 70 anos geram oportunidades de novas doenças e risco de óbito por outras causas maior que para um jovem. Não foi estudado o papel da radioterapia, terapia a qual sabemos que em certas situações nos auxilia. Além disto, é fundamental compreender o grupo restrito de pacientes que participaram e os critérios rigorosos de inclusão e exclusão.

Portanto, embora seja notório que o estudo LNH 98.5 obteve resultados expressivos com R-CHOP, há muito que melhorar com avanço de estudos moleculares e terapias alvos. Atualmente é entendido que o Linfoma Difuso de Grandes Células B é um conjunto heterogêneo de doenças que precisa ser cada vez mais detalhado para que possamos elaborar terapias mais especificas e eficazes.


Referência:

1- Blood 2010 116(12): 2040-2045

Um comentário:

  1. Dr. Marcelo, fico contente com essa sua análise. Tenho 43 anos e terminei a R CHOP ano passado, atualmente faço a manutenção trimestral com MabThera por 2 anos. Tive LNH folicular com um "3 alguma coisa", que pelo meu médico é assemelhado ao de células B. Minha resposta ao R CHOP foi perfeita, mesmo já estando no grau IV. Mas a possibilidade de recidiva dâ um certo pânico, creio que só o passar do tempo para amenizar esse sentimento. Abraços. Lígia Albuquerque.

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