quarta-feira, 22 de setembro de 2010

... lentidão do diagnóstico dos Linfomas

Foi publicado na Folha de São Paulo do dia 21 de setembro de 2010 um artigo que ilustra a lentidão no diagnóstico de Linfoma no Sistema Único de Saúde comparado ao serviço privado. O artigo refere-se ao estudo multicêntrico com 540 pacientes com linfoma que fizeram diagnóstico na rede pública e privada. É relatado pelo jornal que 13% dos pacientes do SUS fizeram diagnósticos em estágio precoce versus 37% na rede privada. Segundo o artigo, no SUS os pacientes esperam até 6 meses para fazer os exames de imagem e biópsia, procedimentos fundamentais para o diagnóstico. O processo é lento porque o paciente percorre um longo caminho constituído de inúmeros encaminhamentos até o cirurgião fazer a biópsia para ser analisada pelo médico patologista. As conseqüências desta lentidão promovem provavelmente a progressão da doença e diminuição das chances de cura.

No dia 19 de setembro foi publicada no mesmo jornal uma discussão no caderno Eleições sobre a porta de entrada do SUS sendo declarado por médicos “experts” em saúde pública que o foco dos candidatos à presidência está equivocado, pois os “Ambulatórios Médicos de Especialidades” ou as “Unidades de Pronto Atendimento” visam o atendimento de especialistas, enquanto 85% da necessidade de saúde da população brasileira poderia ser resolvida pelo programa da saúde da família nas Unidades Básicas de Saúde. Só 15% dos casos necessitariam de hospitais especializados.

Entendo que do ponto de vista epidemiológico doenças como: Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Bronquite asmática são mais freqüentes que os Linfomas. Entretanto a velocidade do reconhecimento de uma patologia menos freqüente não é ideal, pois muitas vezes os médicos demoraram a suspeitar de neoplasia e quando suspeitam os recursos para fazer exames de imagem e biópsia são escassos e estes hospitais especializados não são ágeis frente à demanda.

Portanto, mais uma vez a informação é fundamental. O paciente precisa estar informado sobre sintomas e sinais que podem estar presentes no diagnóstico dos Linfomas. Embora seja um grupo extremamente heterogêneo de doenças entre si, alguns sintomas e sinais são semelhantes.

Saiba mais sobre:

Linfoma de Hodgkin: http://hemo-blog.blogspot.com/2010/05/linfoma-de-hodgkin.html

Linfomas não-Hodgkin : http://hemo-blog.blogspot.com/2010/04/linfoma-nao-hodgkin.html

domingo, 5 de setembro de 2010

Diferenças entre o TMO autólogo x alogênico

Transplante de Medula Óssea

O Transplante de Medula Óssea (TMO) é um procedimento médico em que a célula transplantada é a célula tronco hematopoiética (CTH) que tem a capacidade de se auto-renovar e formar todas as células do sangue: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.

Existem basicamente dois tipos de TMO: Autológo e Alogênico

1- No TMO autólogo, as células (CTH) transplantadas são do próprio paciente.

2- No TMO alogênico, as células (CTH) transplantadas são de um doador. Este doador pode ser um irmão ou irmã do paciente com composição genética similar, ou o doador pode não ser aparentado, sendo geneticamente semelhante. Nesta modalidade de TMO existe o Mini TMO, também chamado de TMO não-mielo ablativo, o qual há menor quantidade de quimioterapia de preparo. Este procedimento é proposto quando não é possível o TMO alogênico padrão devido idade, outras doenças ou outros fatores.

Coleta da Medula Óssea




A coleta da Medula Óssea (MO) pode ser feita através da retirada das células tronco pelo sangue ou pela própria medula óssea.

A coleta pelo sangue é feita por um processo que separa a célula tronco (CTH) das demais células sanguíneas por um procedimento chamado aférese. O sangue é removido por uma veia. É processado e a CTH é separada. O sangue em seguida retorna ao doador/ ou paciente (doação autóloga) por outra veia. Este processo tem um fluxo contínuo.

A coleta feita pela medula óssea ocorre no Centro Cirúrgico, através de anestesia geral ou epidural. A medula óssea é coletada por médicos especialistas, através de aspirações com agulhas no osso do quadril. Após o procedimento é possível o doador/ ou paciente (doação autóloga) relatar dor de baixa intensidade facilmente tratada com analgésicos comuns. O procedimento é extremamente seguro.




 
Condicionamento

O condicionamento acontece no período pré-infusão da medula óssea. O paciente recebe quimioterapia em alta dose associada ou não a irradiação corporal total. Há múltiplas variações de protocolos para diferentes tipos de doenças.

O objetivo desta fase do TMO é destruir as células tumorais e promover imunossupressão para que as CTH transplantadas não sejam rejeitadas (no caso dos TMO alogênicos).

Infusão da Medula Óssea

A Medula Óssea coletada no Centro Cirúrgico ou as CTH coletas pelo sangue são infundidas na veia do paciente. Elas irão povoar a medula óssea e restabelecer a produção de células sangüíneas. Este processo chama-se enxertia. O restabelecimento da medula óssea transplantada ocorre geralmente entre o 15º. e 20º. dia da infusão. Percebe-se a recuperação através dos hemogramas diários. A enxertia é definida quando a contagem de neutrófilos é ≥ 500/mm3 por três dias consecutivos.

Efeitos colaterais

Os efeitos colaterais do TMO é uma questão a ser considerada. Varia de acordo com o tipo do TMO autólogo x alogênico, idade do paciente, tipo de doença, quantidade de quimioterapia e radioterapia prévia ao TMO, tipo de condicionamento, entre outras variáveis. É fundamental discutir esta questão com o médico que indica o TMO, como também com o médico especialista em TMO.

1- Infecções: a presença de infecções é comum, devido ao longo período de imunossupressão. As infecções podem ser bacterianas, parasitárias, fúngicas e/ou virais. Existem vários protocolos de tratamento preventivos como medicações, isolamento do paciente, quartos com pressão positiva para diminuir estes riscos.

2- Hemorragias: risco presente decorrente da contagem de plaquetas baixas.

3- Mucosite: inflamação das mucosas, que pode promover dor na cavidade oral, diarréia, dor para evacuar, dificuldade para deglutição de alimentos sólidos e líquidos. Quando presente é necessário aplicações de potentes analgésicos e em algumas situações nutrir o paciente pela veia.

4- Náusea e vômitos: decorrentes da quimioterapia.

5- Infertilidade: dependendo do protocolo utilizado a infertilidade pode ocorrer de forma permanente, o paciente que esteja no período fértil e deseja ter filhos precisa discutir com o seu médico estratégias.

6- Lesões de outros órgãos podem ocorrer como pulmão, fígado, ossos, olhos, entre outros. Pacientes submetidos à irradiação corporal total têm riscos de evoluir com catarata.

Doença do enxerto versus hospedeiro

Esta complicação pode ocorrer apenas nos TMO alogênicos. Entende-se como enxerto as células do doador e hospedeiro o doente transplantado. Assim, o enxerto pode não reconhecer as células do hospedeiro como próprias promovendo ataques imunológicos nos tecidos normais do hospedeiro como pele, trato gastro-intestinal, fígado entre outros. Acomete cerca de 10 a 50% dos casos de TMO alogênico. Ela é classificada entre aguda ou crônica, quando surge nos 100 primeiros dias ou após este período, respectivamente. O tratamento desta complicação é a utilização de imunossupressores.

É possível perceber que o TMO alogênico tem maior potencial de toxicidade, principalmente em relação à Doença do Enxerto versus Hospedeiro. Entretanto, o TMO alogênico pode ser mais eficaz, pois o sistema imune com características do doador reconhece as células tumorais como estranhas, rejeitando-as. Este fenômeno pode diminuir a carga tumoral, como também erradicá-la, em certas situações. Há certos tipos de doenças que este fenômeno é muito bem documentado.

Portanto, é possível notar que o TMO é um procedimento complexo com inúmeras variações. Discuta muito bem com o seu médico todos os riscos e benefícios deste procedimento, para que possa obter a melhor vantagem com o mínimo de efeitos colaterais.