segunda-feira, 31 de maio de 2010

Limites de um exame - teste diagnóstico.

Muitas vezes conversamos com os pacientes sobre os limites de detecção de um exame para um determinado diagnóstico, como também a capacidade de um exame definir como negativo uma pessoa saudável.

Este conceito é importante, pois cada exame, ou melhor, teste diagnóstico tem limites. Na teoria seria ideal haver um teste que fosse positivo detectando um determinado tipo de doença em 100% dos doentes e excluindo, como negativo, 100% das pessoas saudáveis, ou seja, não doentes. Portanto, com taxas de falso negativo e falso positivo igual a zero.

O exemplo abaixo é simplificado, entretanto ilustrativo sobre o conceito de sensibilidade e especificidade.

A ilustração abaixo tem como intenção encontrar o Wally, vamos fazer uma correlação Wally versus presença de um tumor.



Imagine que você leitor seja míope e que utilize óculos rotineiramente. Entendo que já é difícil encontrar a figura da personagem Wally com o óculos. Caso o retirasse, a capacidade de encontrar o Wally na figura diminuiria drasticamente, reduzindo assim a sensibilidade. Além disso, a capacidade de descartar a personagem do Wally quando se vê uma figura humana também seria reduzida, diminuindo a especificidade.

Portanto em todo teste diagnóstico há limites, conhecidos como sensibilidade e especificidade.

Sensibilidade é a capacidade de um teste ser positivo na presença da doença.

Especificidade é a capacidade de um teste ser negativo em indivíduos sem doença.

Assim, todos os exames laboratoriais e de imagem têm seus limites, pois há situações em que a intensidade da doença é tão diminuída que não é detectável e assim após o tratamento estas células voltam a crescer tornando-se detectáveis e assim constatando a recidiva.

O exemplo abaixo ilustra a mesma ilustração agora com maior quantidade das personagens Wally. Verifique como a sensibilidade e especificidade aumenta.


domingo, 30 de maio de 2010

Duas décadas com o SUS

O editorial da Folha de São Paulo publicado no dia 30 de maio de 2010 relata a entrada da 3ª. década de “vida” do SUS criado na Constituição de 1988.

O editorial define como principal progresso a queda da taxa de mortalidade infantil de 47,1 para 19,3 óbitos no primeiro ano de vida por 1000 nascidos vivos.

Segundo o editorial 25% da população brasileira depende exclusivamente do SUS para obter tratamento. A despesa nacional com a saúde é de aproximadamente R$ 250 bilhões por ano, sendo que 60% são pagos pelo setor privado. Este valor está abaixo da média mundial para saúde. Assim os nossos gastos com a saúde gira em torno de 7,5 a 8% do PIB, sendo a média mundial de 8,7%. Segundo especialista para um sistema universal como o SUS o gasto ideal para a saúde seria ao redor de 10% do PIB.


... para obterem mais informações leia o conteúdo publicado na Folha de São Paulo.

sábado, 29 de maio de 2010

Transplante de Medula Óssea e Linfoma não-Hodgkin

Existem várias situações em que os pacientes com linfoma não-Hodgkin (LNH) são submetidos ao transplante de medula óssea. Há vários fatores que influenciam o médico a indicar ou descartar esta forma de tratamento são elas: idade, disfunções orgânicas, grau de resposta a quimioterapia entre outras.

Estas decisões são complexas, pois o Transplante de Medula Óssea é um procedimento agressivo e a análise do risco x benefício está sempre em questão.

A indicação com maior evidência científica de Transplante de Medula Óssea Autólogo (AUTO-TMO) no LNH agressivo é quando há a situação de recidiva, ou seja, retorno da doença após o término do tratamento. Nesta situação é indicado quimioterapia de resgate e nos casos que apresentam resposta à quimioterapia de resgate há benefício consolidar este tratamento com AUTO-TMO.



Esta indicação já é conhecida há mais de 10 anos com a publicação do estudo europeu, chamado Estudo PARMA. É importante salientar que neste estudo com 215 pacientes o limite de idade era 18 a 60 anos, além de outros critérios de exclusão como: recidiva no sistema nervoso central e medula óssea. Portanto, nem todo paciente com LNH recidivado tem forte indicação para o AUTO-TMO. Assim, sempre discuta a indicação com seu médico, as evidências científicas deste procedimento e os riscos versus benefícios.

domingo, 23 de maio de 2010

Transplante de Medula Óssea Autólogo

O transplante de medula óssea autólogo (AUTO-TMO), também chamado de autoplástico é uma forma de tratamento hematológico no qual as células progenitoras hematológicas transplantadas são do próprio paciente.

As células progenitoras hematológicas, podem ser chamadas de células tronco hematopoiéticas (CTH). Estas células têm a capacidade repovoar a medula óssea tratada, auto-renovarem e produzirem todas as células sanguineas.









O AUTO-TMO pode ser utilizado para doenças malignas (câncer) e benignas.

Este tratamento é constituído por várias fases:

1- Regime de Mobilização de células tronco hematopoiéticas:

Este procedimento visa a coleta das CTH através de um processo hemoterápico chamado aférese.

Normalmente as CTH não circulam no sangue, para que isto ocorra é preciso utilizar meios artificiais como estimuladores de medula óssea e/ou quimioterapia.

Após a coleta das CTH estas células são congeladas, pelo processo de criopreservação.


2- Regime de Condicionamento:

Processo que se utiliza quimioterapia em altas doses com o objetivo de promover imunossupressão ou diminuir ao máximo resquícios de doenças oncológicas.

3- Infusão das Células Troncos

As CTH são infundidas na veia, como uma transfusão de sangue. Estas CTH encontram e se instalam na medula óssea, povoando-a e produzindo células sanguíneas.

4- Enxertia

A enxertia ou “pega medular” é o momento em que se constata o funcionamento da medula óssea através da recuperação da contagem de neutrófilos feita pelo hemograma. Isto, geralmente, ocorre entre 10 a 21 dias após a infusão das CTH.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Gestação e Linfoma de Hodgkin

A gestação está mais associada ao Linfoma de Hodgkin (LH) comparado ao Linfoma não-Hodgkin (LNH), pois o LH mesmo apresentando menor incidência, no período fértil é mais freqüente. Um dos Institutos mais famosos de combate ao câncer, MD Anderson Cancer Center, descreve a associação de gestação em 3,2% de todos os casos de LH.

Os objetivos deste texto são relatar os cuidados de uma paciente gestante com Linfoma de Hodgkin, fases da gestação e seus riscos decorrentes do tratamento, taxa de fertilidade após tratamento e sugestão de tempo após tratamento para uma gestação.

Novamente, é importante ressaltar que o texto a seguir descreve dados gerais, portanto é completamente possível que casos reais não se encontrem nestas estatísticas. Assim, a melhor forma de utilizar este e outros textos neste blog é tirar as dúvidas com o seu médico.

A gestação pode acontecer antes do diagnóstico do Linfoma de Hodgkin, durante o tratamento (de forma mais rara) e após o tratamento. Embora o tratamento da doença possa promover infertilidade reversível na maioria dos casos, é recomendável contracepção durante o tratamento. Portanto é aconselhável para todas mulheres em idade fértil com diagnóstico de LH fazer teste de gravidez antes da realização da tomografia, cintilografia, PET e do tratamento.

É aconselhável exames de imagem diferentes na paciente gestante com Linfoma de Hodgkin como a ultrassonografia e a Ressonância Nuclear Magnética.

A fase mais crítica para a abordagem terapêutica é o primeiro trimestre, pois nestes meses iniciais há fenômenos importantes como a implantação do embrião e formação dos órgãos. O tratamento nesta fase pode provocar abortamentos e má formações congênitas. Portanto, quando é possível esperar, sugere-se adiar o tratamento para o segundo semestre, pois os riscos nesta fase são menores para o feto.

No segundo e terceiro trimestre estas alterações são menos graves. Assim, geralmente os efeitos do tratamento nesta fase são: baixo peso ao nascer, restrição do crescimento intra-uterino, prematuridade e suas conseqüências. Embora não seja comum, podemos ter óbito fetal.

Todas as mulheres gestantes com Linfoma de Hodgkin devem estar em seguimento pré-natal de alto risco.

Estudos demonstram que a taxa de gestação após o tratamento de Linfoma de Hodgkin é semelhante à população sem linfoma na mesma faixa etária atingindo cerca de 85%. Entre os fatores de proteção que contribuem para manter a preservação da fertilidade foi a mudança do esquema quimioterápico do passado MOPP para o atual ABVD e a blindagem pélvica da irradiação.

Infelizmente, há recidivas do Linfoma de Hodgkin, as recaídas geralmente ocorrem dentro de dois a três anos após a terapia definitiva. Em estudos que avaliam a resposta do tratamento do linfoma de hodgkin com um seguimento de 10,5 anos a taxa de recaída após 2 anos é de 10%. Assim, como a taxa de recaída diminui acentuadamente após 2 a 3 anos, sugere-se a mulher que encontra-se em remissão completa do Linfoma de Hodgkin que deseja engravidar aguardar cerca de 2 anos do término do tratamento.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Por que é tão importante doar sangue?

Doação de sangue

O ato de doar sangue é voluntário. Este ato extremamente nobre pode ajudar várias pessoas com uma única doação. No texto a seguir, haverá explicação sobre os tipos de hemoderivados (produtos extraídos do sangue), a utilidade da transfusão, o tempo de estocagem, o impacto da falta ou diminuição da doação de sangue e a segurança da doação.


Quando o sangue do doador é retirado para doação, rotineiramente, este sangue é separado entre: glóbulos vermelhos, plaquetas e plasma.


Os glóbulos vermelhos conservados na bolsa são chamados de Concentrados de Hemácias.


As plaquetas conservadas na bolsa são chamadas Concentrados de plaquetas.

O plasma na bolsa é congelado a temperatura menor que -18º.C sendo denominado Plasma Fresco Congelado.

Assim, uma única doação pode ajudar no mínimo 3 pessoas.

A importância da doação

O uso destes hemoderivados de forma mais usual: Concentrados de Hemácias, Concentrados de plaquetas e Plasma Fresco Congelado auxiliam da seguinte maneira:

1- Concentrado de Hemácias: melhora o transporte de oxigênio para o organismo, melhorando os sintomas e sinais de anemias. É amplamente útil e vital em todos os serviços do hospital como nas unidades de emergência, centro cirúrgico, enfermarias e nas unidades de tratamento quimioterápico.

2- Concentrados de plaquetas: diminui a chance ou ajuda a reduzir sangramentos decorrentes da diminuição de plaquetas, ou em situações raras em doenças, nas quais as plaquetas não funcionam. É muito utilizado nas unidades de emergência, centro cirúrgico, enfermarias e principalmente nas unidades de tratamento quimioterápico.

3- Plasma Fresco Congelado: contém fatores de coagulação e com isto ajuda nas situações de distúrbios de coagulação decorrentes da diminuição da atividade dos fatores de coagulação. É muito utilizado nas unidades de emergência, centro cirúrgico e enfermarias.

Entendido de forma simples a utilidade dos hemoderivados. É importante entender o seu tempo de estocagem.

1- Concentrado de hemácias: tempo máximo de estoque: 35 dias.

2- Concentrados de plaquetas : tempo máximo de estoque: 5 dias.

3- Plasma Fresco Congelado: tempo máximo de estoque: 1 ano.

Portanto, fica claro que se o banco de sangue parar de receber doadores em 5 dias o estoque de plaquetas acaba. Assim, infelizmente é muito comum nos feriados prolongados como carnaval, natal e ano novo haver escassez de plaquetas.

Segurança

Segurança para o doador

O ato de doar é extremamente seguro, pois antes do ato em si. O doador passar por análise da pressão arterial, freqüência cardíaca e dosagem de hemoglobina para descartar que um doador anêmico doe sangue sem se prejudicar. Além disto há limite para idade e peso.

Segurança para o doente que receberá o sangue doado

Antes da doação, o doador passa por uma triagem, ou seja, além da análise inicial citada, este é entrevistado, sobre situações de risco em que pode estar com seu sangue contaminado. Após esta entrevista sendo aprovado, em alguns bancos de sangue, há o voto de auto-exclusão, no qual o doador analisa novamente a confiabilidade de suas respostas. A entrevista de triagem e o voto de auto-exclusão têm como finalidade diminuir o risco de transmissão de sangue que possam estar contaminados e não detectados pelos testes sorológicos, por estarem no período chamado "janela imunológica".

A lista abaixo ilustra o tempo estimado da "janela imunológica" dos vírus. Isto significa o tempo aproximado de exposição aos vírus até a positividade sorológica dos testes:

- Vírus HIV: aproximadamente 30 dias
- Vírus Hepatite B: aproximadamente 60 dias
- Vírus Hepatite C: aproximadamente 90 dias

Assim, após a triagem o sangue antes de ser doado é analisado por testes sorológicos com alta-sensibilidade contra: hepatite B, hepatite C, HIV, HTLV 1, Doença de Chagas e Sífilis. Em algumas regiões do país são realizados testes para malária.

Outros testes obrigatórios focados na compatibilidade do sangue a ser transfundidos para minizar as reações transfusionais são a tipagem ABO, Rh e outros testes com o soro do receptor com os glóbulos vermelhos da bolsa para descartar ou diminuir a chance de reações.




sábado, 15 de maio de 2010

Hemograma e seus valores críticos

Há certas situações que o paciente pode ser avisado pelo seu médico ou pelo laboratório, onde fez o hemograma que há alterações no seu exame em que é preciso tomar uma conduta de urgência e procurar um pronto-socorro. Estas situações são raras para a população, em geral, entretanto para os pacientes com leucemia ou que estão em quimioterapia esta situação é mais freqüente. Quando se recebe esta informação pelo laboratório não esperada, a primeira conduta a ser tomada é entrar em contato imediato com o médico que solicitou o exame, caso não o encontre, o correto seria realizar as orientações recebidas pelo laboratório.

É preciso lembrar que o tratamento quimioterápico pode alterar a produção da medula óssea e promover situações extremas como anemia (diminuição dos glóbulos vermelhos) leucopenia e plaquetopenia.

Clique na figura abaixo para entender a interferência da quimioterapia na produção das células sanguineas.


O hemograma por contar células com funções tão nobres pode sinalizar alterações em que a informação do resultado é considerada uma urgência médica. Estes valores críticos são definidos como alterações laboratoriais superiores ou inferiores aos valores de referências em que há risco de morte ou dano irreparável pode ocorrer se não for tratado imediatamente.

Clique na foto abaixo para entender o hemograma



Não existe um consenso entre os laboratórios em relação aos limites inferiores ou superiores para hemoglobina, contagem de neutrófilos e plaquetas. Entretanto os laboratórios que visam um padrão de qualidade têm como um de seus parâmetros de excelência a comunicação destes valores críticos. Estes valores críticos também são aplicáveis para os testes de: coagulação, dosagem de sódio, potássio, uréia, creatinina entre outros.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Hemograma

O Hemograma é um exame de sangue que tem como finalidade contar as células sanguíneas (glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas), avaliar as variações do tamanho e forma das células, como também descrever a concentração da hemoglobina e a relação entre os glóbulos vermelhos e o plasma, isto é o hematócrito. É realizado através da coleta de sangue, através de uma punção venosa. O sangue geralmente é coletado no tubo a vácuo de tampa roxa contendo anticoagulante EDTA. É analisado atualmente, por contadores automatizados com auxílio da avaliação microscópica por um técnico especialista e ou até por um médico especialista se for necessário.

Este exame é extremamente útil, pois através dele podemos suspeitar e investigar doenças hematológicas (próprias do sangue), como também avaliar alterações no sangue de doenças de causa não hematológica.





Células avaliadas, sinonímeas e sua função.


Hemácia
Sinônimo: Glóbulos vermelhos, eritrócitos

São as células mais numerosas do sangue, não possuem núcleo e devido a presença da hemoglobina têm a coloração vermelha e transportam Oxigênio e Gás carbônico.




Leucócitos
Sinônimo: Glóbulos brancos

Os Leucócitos são um conjunto de células com funções distintas específicas, mas têm como finalidade final a imunidade. Fazem parte de grupo de células: neutrófilos, basófilos, eosinófilos, monócitos e linfócitos.

Neutrófilos
Sinônimo: Segmentados e bastonetes

São células maduras, sendo geralmente mais prevalentes entre os leucócitos e têm como finalidade “atacar” bactérias e fungos. Têm um período de meia-vida de 6 a 8 horas no sangue (por isto, é comum grandes variações da sua contagem num curto espaço de tempo). Devido sua função tão importante em relação à imunidade, pacientes com diminuição da contagem de neutrófilos são, geralmente, susceptíveis para infecções bacterianas e fúngicas necessitando de abordagem médica de urgência na suspeita de infecção (febre, tremores e calafrios).

Clique na célula e leia mais sobre a importante função dos neutrófilos.











Eosinófilos

São células com funções imunológica destinadas principalmente para parasita, ou melhor “vermes” (protozoários). Estão também relacionadas aos processos alérgicos.

Monócitos

São células que têm a capacidade de englobar, digerir agentes agressores e estimular o sistema imune a elaborar uma respostas específica contra os microorganismos.

Basófilos

São células que participam dos processos alérgicos.

Linfócitos

Há três tipos de linfócitos: células B, T e NK. Neste exame não é possível diferenciar estes três tipos de células. Estas células têm como função elaborar respostas específicas contras os agentes invasores.


Plaquetas

São pequenas células responsáveis para formação dos coágulos com a participação dos fatores de coagulação.






As doenças podem estar relacionadas com alterações de diferentes parâmetros do hemograma tanto acima como abaixo dos valores de referências.


- Anemia: conjunto de doenças caracterizada pela diminuição do número de glóbulos vermelhos (hemácias, ou eritrócitos), ou diminuição da concentração da hemoglobina.

- Poliglobulia: conjunto de doenças caracterizada pelo aumento do número de glóbulos vermelhos, ou aumento da concentração da hemoglobina.

- Leucocitose: alteração do hemograma definida pelo aumento do número de leucócitos (glóbulos brancos).

- Leucopenia: diminuição do número de leucócitos.

- Neutrofilia: aumento do número de neutrófilos.

- Neutropenia: diminuição do número de neutrófilos.

- Linfocitose: aumento do número de linfócitos.

- Linfopenia: diminuição do número de linfócitos.

- Plaquetose: aumento na contagem de plaquetas.

- Plaquetopenia: diminuição do número de plaquetas.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Linfoma de Hodgkin

História



Antes da publicação de Thomas Hodgkin em 1832 entedia-se que as doenças que acometiam os gânglios linfáticos eram decorrentes de inflamação ou por câncer. Ao publicar seu artigo original Thomas Hodgkin definiu uma nova entidade de doença que é própria dos gânglios linfáticos. A importância desta publicação criou uma nova categoria de doenças, as doenças próprias do sistema linfático. Isto foi tão importante que em 1865, Samuel Wilks, em reconhecimento, designou esta doença como Doença de Hodgkin.

O Linfoma de Hodgkin compreende 4 subtipos. É uma doença rara representa 0,6% de todos os tipos de câncer e 10% de todos os linfomas. Apresenta maior incidência entre os 20 a 30 anos e depois dos 50 anos.


Felizmente, o Linfoma de Hodgkin é um tipo de câncer em que o tratamento é extremamente eficaz. Estima-se que 90% dos pacientes estarão vivos após 10 anos do tratamento e é possível erradicar a doença em 75% dos doentes.


Como se manifesta?

Geralmente apresenta-se com aumento dos gânglios, ínguas, no pescoço (60 a 70% dos casos) ou dentro do tórax, região chamada de mediastino (50 a 60% dos casos). Estas ínguas tem a tamanho aumentado (geralmente > 2cm) e são indolores. Podem acometer a região axilar e no abdome de forma menos prevalente. Talvez, pelo fato das ínguas serem indolores não incomoda o paciente demorando a procura o médico.



Em 20% dos casos é possível a presença dos sintomas: febre, suor noturno excessivo e emagrecimento. Além disso entre 10 a 15% há muita coceira no corpo.



A figura acima ilustra uma radiografia de tórax. As setas demonstram um tumor de forma arredondada no mediastino (dentro do tórax). Este sítio de acometimento da doença é comum principalmente nos jovens.

Sintomas relacionados ao acometimento do mediastino podem existir como dor no peito ou nas costas, falta de ar, inchaço nos braços, pescoço e face, associado ou não a falta de ar. Estas manifestações podem estar associadas com obstrução da veia cava superior. Isto pode promover além do inchaço já descrito dilatação das veias que são drenadas pela veia cava superior como a figura abaixo.



Associado aos sintomas os pacientes podem apresentar anemia e alterações no teste chamado VHS.


Como é feito o diagnóstico?

Primeiramente, é importante que o paciente procure o médico quando apresenta ínguas, sendo elas indolores ou não. O médico através do exame físico e exames de imagem definirá qual será a íngua a ser biopsiada.

Através de cirurgia retira-se uma parte do gânglio acometido. Este material é analisado pelo patologista que através da análise microscópica associada há inúmeros métodos de coloração define o diagnóstico, nome da doença.

Além da biópsia do gânglio, confirmando o Linfoma de Hodgkin é necessária a biópsia de medula óssea para avaliar se há ou não acometimento da medula óssea, como também tomografias e se possível realizar um exame chamado PET. Estes outros exames de imagem servem para avaliar o grau de comprometimento da doença, ou seja, estadiamento.

O estadiamento é importante para  o planejamento terapêutico, ou seja,  quantidade de ciclos de quimioterapia associado ou não à radioterapia.




quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mieloma Múltiplo

O Mieloma Múltiplo é um câncer da medula óssea. A medula óssea é responsável pela produção das células sanguíneas : glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. O plasmócito, um tipo de glóbulo branco, é responsável pela produção de anticorpos, também chamadas de imunoglobulinas.

O Mieloma Múltiplo é a conseqüência da proliferação exacerbada de plasmócitos e com isto, geralmente, há produção exagerada de um tipo especifico de imunoglobulinas.

No Brasil o Mieloma Múltiplo é o segundo câncer do sangue mais incidente na população. Representa 1% de todos os tipos de câncer. Sua prevalência estimada é de 17 para cada 100.000 habitantes e nos EUA estima-se que por ano são diagnosticados 15.000 novos casos. A freqüência da doença aumenta com idade com pico de incidência entre 55 a 60 anos, acomete mais os homens e pessoas afro-descendentes. Infelizmente no Brasil, o diagnóstico é feito nos pacientes com  doença avançada. Portanto é preciso melhorar a taxa de detecção da doença em estágios precoces.


O objetivo deste texto é ilustrar os sintomas, sinais clínicos e alterações laboratoriais do Mieloma Múltiplo para sinalizar os pacientes e leigos a procurarem o médico especialista nas seguintes situações.


Como o Mieloma Múltiplo se manifesta?

Um dos principais sintomas do Mieloma é a dor óssea. O paciente geralmente sofre muito com dores ósseas na região lombar (coluna) ou qualquer outro osso que está acometido pela doença. Além disto, é freqüente nos pacientes com esta doença apresentarem fraturas em que o acidente que desencadeou é leve, como por exemplo: queda da própria altura, sair da cama, descer escada entre outras. Fraturas com mecanismo de trauma leve devem ser suspeitar de Mieloma, quando descartado outras causas de fragilidade óssea.

A anemia caracterizada pela palidez, fraqueza, apatia, cansaço, inchaço e dores nas pernas, geralmente faz parte do conjunto de manifestações do Mieloma Múltiplo. Deixo claro, que nem toda anemia deve-se pensar em Mieloma Múltiplo, mas no paciente idoso, com dores ósseas e anemia esta suspeita merece ser considerada.

Há outros sintomas graves que podem ser decorrentes do aumento de cálcio decorrente da destruição óssea como, por exemplo: intestino ressecado, náuseas, vômitos e confusão mental.

A confusão mental, associada ou não com alteração visual, náuseas, vômitos e dor de cabeça podem estar associados com a síndrome de hiperviscosidade decorrente da produção de anticorpos pelos tumores de plasmócitos.

O Mieloma múltiplo diferente da maioria dos câncer é uma doença disseminada portanto para seu diagnóstico uma única biópsia de um local acometido por uma tumoração não define o diagnóstico de Mieloma.


A combinação de aumento de plasmócitos na medula óssea através do mielograma, presença anormal de um tipo específico de imunoglobulina no sangue e/ ou urina, lesões ósseas características na radiografia, são pontos fundamentais para o diagnóstico. Associados ou não a anemia, aumento na concentração do sangue de cálcio e insuficiência renal.

Portanto, se apresentar:
1- Dor óssea
2- Anemia
3- Insuficiência Renal

Questione o seu médico para saber a real causa dessas manifestações.
Nestas situações é preciso descartar Mieloma Múltiplo.



segunda-feira, 3 de maio de 2010

AIDS e Linfoma não Hodgkin

Estima-se que 25 a 40% dos pacientes portadores do vírus HIV podem evoluir com câncer. Cerca de 10% dos casos de câncer em pacientes portadores do vírus HIV são Linfomas não-Hodgkin (LNH). Entende-se através de estudos epidemiológicos que o risco do desenvolvimento de Linfoma não-Hodgkin no paciente portador do vírus HIV é 60 a 165 vezes maior que uma pessoa com sorologia negativa.

Nem todo paciente portador do vírus HIV, por definição tem AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Entretanto a combinação sorologia positiva para o vírus HIV e diagnóstico de Linfoma não-Hodgkin define-se AIDS ou SIDA, na língua portuguesa.

Linfoma relacionado à SIDA compreende três subgrupos: LNH sistêmico (disseminado), Linfoma Primário de Sistema Nervoso Central (LPSNC) e Linfoma primário de serosa. Os LNH mais freqüentes são do subtipo histológico: Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB) e Linfoma de Burkitt representando respectivamente 58% e 40% (quando se exclui LPSNC).

Estima-se que a incidência de LPSNC dentro do grupo dos LNH relacionado à SIDA seja aproximadamente 15%.

Quais são os sintomas mais freqüentes?

A apresentação dos sintomas e sinais do Linfoma relacionado à SIDA difere dos pacientes que não são soro positivo, pois na grande maioria dos casos o comportamento é extremamente agressivo e com a presença de sintomas B (caracterizado por febre, emagrecimento e sudorese) e a infiltração por órgãos não linfóides é mais freqüente.

Os órgãos não linfóides mais acometidos são: estômago, intestino, fígado, pulmão, cérebro e cerebelo. Não necessariamente nesta ordem.

A importância de levantar este tema deve-se a dois motivos:

1) Visto a forte associação Linfoma não Hodgkin e AIDS. No paciente em que foi feito o diagnóstico de Linfoma nã0-Hodgkin é extremamente importante solicitar sorologia para o vírus HIV. Além disto, caso a sorologia seja positiva é importante utilizar medicamentos anti-retrovirais (contra-AIDS) associado à quimioterapia.

2) Nos pacientes portadores do vírus HIV na presença de sintomas vagos como febre, suor excessivo e emagrecimento sem causa definida devem procurar seu médico para investigação destes sintomas, pois pode ser Linfoma ou qualquer outra infecção oportunista. Além disto, dores de estômago, queimação do estômago, alteração do ritmo intestinal, dor abdominal ou sintomas neurológicos como: dor de cabeça, tontura, dificuldade para andar, dificuldade para manipular objetos (incoordenação motora) necessitam de avaliação precoce.